segunda-feira, 24 de março de 2008

Skinner – Contingências do Reforço – A solução ambiental

O mundo em que vive o homem tem mudado muito mais rapidamente do que o próprio homem. Em poucas centenas de gerações, características altamente benéficas do corpo humano tornaram-se fonte de problemas. Dentre estas, a extensão em que o comportamento humano é fortalecido por conseqüências reforçadoras.

Três soluções tradicionais:

1) VOLUPTUÁRIA* OU SIBARÍTICA: O reforço é maximizado, enquanto as consequencias desastrosas ou são desconsideradas ou são evitadas.
2) PURITANA: O reforço é contrabalanceado pela punição.
3) ATUALIZAR O CORPO OU MODIFICAÇÃO DO CORPO: Os efeitos reforçadores poderão, concebivelmente, ser adequados às necessidades presentes da sobrevivência.

Uma quarta solução...

TROCAR AS CONTINGÊNCIAS DE REFORÇO: Planejar um ambiente no qual os reforçadores que habitualmente geram o comportamento indesejado simplesmente não o façam.

Exemplo do menino que vai tocar as teclas do piano e faz barulho. É um mau projeto juntar criança e piano e depois punir o comportamento que daí decorre.

Umas solução comparável não é tão óbvia quando os reforços têm forte significado biológico porque o problema é mal interpretado.

É importante citar que existe uma suscetibilidade do reforço.
O ambiente parece ser planejado para desenvolver exatamente os comportamentos que mais tarde se tornam problemáticos.

Necessidade X Reforço

O padrão de um comportamento problemático pode ser relacionado, não a uma necessidade, mas a uma história de reforço. (Ex. hábito do cigarro)

No caso dos animais a necessidade leva a ação. A necessidade não consiste apenas numa carência, mas numa condição em que certo comportamento é provável de ocorrer. Contingências de sobrevivência.

Fugimos da estimulação aversiva e evitamo-la, mas teremos alguma necessidade de fazê-lo?

O homem não é “escravo” de suas necessidades; ele não é “movido pela gula ou pela luxúria”. Se é que tal afirmação pode ser parafraseada, ele seria escravo das coisas que gratificam suas necessidades.

Assim, o conceito de impulso ou necessidade é particularmente equivocado. Negligenciamos contingências de reforço porque buscamos a solução de nossos problemas na satisfação de necessidades.

Se os que parecem ter tudo ainda não estão felizes, somos forçados a concluir que existem necessidades menos óbvias que estão insatisfeitas.
Os homens são felizes num ambiente em que o comportamento ativo, produtivo e criativo é reforçado de maneira efetiva.

Diminuindo a eficácia das contingências

Os reforços poderosos têm funções úteis e uma delas é de encorajar o apoio a uma cultura.

Assim, o problema não está em eliminar os reforços, mas sim moderar os seus efeitos.
A freqüência na qual ocorre um reforço é muito menos importante do que as contingências das quais faz parte.

Pode-se minimizar algumas conseqüências indesejáveis evitando a descoberta de efeitos reforçadores. (Ex. Viciado em heroína)
Um reforço não é num primeiro momento contingente a nenhum tipo de comportamento.

Condicionam-se os estímulos de forma a torná-los reforçadores; as propriedades aversivas são enfraquecidas mediante adaptação, de modo que as propriedades reforçadoras surjam com maior força (adquire-se assim um “gosto”); e assim por diante.

Devemos examinar os processos que tornam as coisas reforçadoras.

Um único reforço pode gerar e manter uma grande quantidade de comportamento, quando tal reforço vem no fim de uma seqüência ou cadeia de respostas. Ex Horticultor.

Pode-se romper as condições nas quais são formadas as longas cadeias.

Reforço Intermitente (apenas certas respostas são reforçadas)
Uma vantagem do reforço intermitente é que ele é mais resistente à extinção do que o reforço contínuo. Isto é, se o reforço for interrompido, o comportamento continuará por um tempo mais longo após o reforço intermitente do que após o reforço contínuo. Os esquemas de razão e de intervalo são todos deste tipo.
Uma única forma de resposta é repetida um grande número de vezes, a uma taxa freqüentemente muito alta, mesmo que apenas pouco freqüentemente reforçada. Ex: leitura de revistas e livros; idas aos teatros; o assistir à televisão.

O arranjo de contingências úteis

No geral busca-se obter o maior efeito possível de reforços fracos e em escassez – (ex: educação)
No caso da solução ambiental – devemos minimizar o efeito de reforços demasiado abundantes e poderosos, para evitar a formação de longas cadeias de respostas, e romper com programas que tornem efetivos os esquemas estendidos.
Ou melhor, os reforços podem ser tornados contingentes ao comportamento produtivo, ao qual não eram originalmente relacionados.
As forças mais poderosas que afetam o comportamento humano não estão sendo usadas de modo efetivo. (comida, sexo, agressividade ou poder, educação, religião?)

Os reforços não são contingentes ao comportamento.

Uma solução ambiental evita o problema como um todo; não deixa lugar para a luta, porque o conflito nunca surge. No presente momento, a solução ambiental parece tão fora de alcance quanto à química, mas o ambiente não necessitaria de mudanças drásticas. Parte importante dessa solução consiste em ensinar técnicas de autocontrole.

O problema do lazer

Graças ao progresso e à tecnologia, os homens precisam fazer cada vez menos para obter as coisas que precisam e assim as contingências de reforço são cada vez menos importantes no planejamento cultural.

Sobra-se tempo.
Uma vez saciado e livre de estimulação aversiva, o homem, como muitas outras espécies, torna-se inativo e vai dormir. Mas só por pouco tempo. O sono e a inação, com ou sem o suporte de drogas, não absorverão toda a estagnação.

O homem “desocupado” poderá, portanto, continuar a lutar, a atacar os outros, a copular, e a se entregar aos comportamentos anteriores que levam a tais atividades.

Comportamento não-consumatório – também pode ser relacionado a reforços generalizados que não são seguidos pelos reforços primários nos quais estão baseados.

Quando o ambiente é alterado de forma que os mais importantes reforços não têm mais poder, os menos importantes passam a controlar. Um princípio adicional entra então em cena: reforços fracos tornam-se poderosos quando atuam intermitentemente. Esse princípio explica muitos aspectos intrigantes do comportamento dos homens em lazer. (Ex. Paciência)
O reforço intermitente também explica a extensão na qual os reforços acima mencionados passam a controlar quando os homens não “precisam fazer nada”.

O planejamento do lazer

Não é demasiado difícil explicar a razão pela qual os homens descobriram e elaboraram atividades para o tempo de lazer.

“Os jogos de habilidades são inventados porque aguçam as contingências do ganhar ou perder.”

Mais surpreendente é o fato das culturas terem de tempos em tempos suprimido os comportamentos não-essenciais que, de outra forma, teriam dominado o tempo de lazer. A consumação excessiva foi simplesmente interditada; as drogas, proscritas; e o jogo, declarado ilegal.

O princípio foi generalizado: qualquer comportamento que leve ao prazer foi classificado como pecaminoso.

Por definição, a supressão de qualquer comportamento positivamente reforçado torna uma maneira de viver menos reforçadora. Interferir na busca do prazer é particularmente ressentido. Quanto mais trivial o reforço, maior o ressentimento; atividades inocentes, como jogar cartas ou dançar, ou simplesmente não fazer nada certamente deveriam ser deixadas à opção individual. (será?)

As culturas de tempos em tempos suprimem os comportamentos não-essenciais que, de outra forma, teriam dominado o tempo de lazer.

As atividades do tempo de lazer, por definição não dão à cultura muito suporte contemporaneamente, mas têm relação com seu desenvolvimento posterior e com sua capacidade de enfrentar emergências.

Artes, ofícios e esportes desenvolvem importantes habilidades no homem (aderir a estes comportamentos fortalece a cultura).

O papel da educação – ensinar técnicas de autocontrole que auxiliem o indivíduo a resistir à determinadas contingências do ambiente.

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