domingo, 30 de março de 2008

Reflexão sobre a inserção do psicólogo no Hospital


As políticas de saúde pública no Brasil, priorizam o modelo clínico hospitalar, onde o atendimento em saúde é via atenção secundária. O psicólogo que atua neste âmbito, é o especialista em Psicologia Hospitalar, reconhecido pelo CFP desde 2003. Vale ressaltar que o Brasil é o único país onde encontramos a Psicologia Hospitalar como especialidade, e que vários autores entendem que é apenas um campo ou estratégia de trabalho do Psicólogo da Saúde e não uma especialidade.


Segundo Bornholdt e Castro (2004)1 a atuação do psicologo em relação a atenção à saúde se dá :


em instituições de saúde realizando atendimentos psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermaria em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria.(p.50)


No Brasil a formação do psicólogo é considerada elitista. É preciso sair da teoria e técnica para um comprometimento social para que se tenha uma visão dos problemas da saúde e capacitação para trabalhar cm outros profissionais. A formação ainda o coloca distante das demandas sociais.
Mas nos últimos anos, a área da saúde vem absorvendo os psicólogos que não ocuparam espaço no modelo clínico e a psicologia hospitalar vem sendo uma das estratégias de atuação no mercado.

Por ser uma especialidade nova, muitas vezes o psicólogo não tem consciência do seu papel e nem sabe como atuar dentro da instituição.

Rodriguez-Marín2 (apud BORNHOLDT; CASTRO, 2004) sintetiza o trabalho do psicólogo que trabalha no hospital em seis tarefas:

1) função de coordenação: relativa às atividades com os funcionários do hospital; 2) função de ajuda à adaptação: em que o psicólogo intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do paciente internado; 3) função de interconsulta: atua como consultor, ajudando outros profissionais a lidarem com o paciente; 4) função de enlace: intervenção, através do delineamento e execução de programas junto com outros profissionais, para modificar ou instalar comportamentos adequados dos pacientes; 5) função assistencial direta: atua diretamente com o paciente, e 6) função de gestão de recursos humanos: para aprimorar os serviços dos profissionais da organização. (p.51)

No que diz respeito a este modelo de atuação, faz-se necessário que o psicólogo esteja preparado para trabalhar em conjunto com outros profissionais, pois atuando de forma interagida, haverá uma melhora nos resultados dos tratamentos. Não pode ter onipotência por parte de nenhum profissional da equipe de saúde, respeitando limites e espaços de cada um e aproveitando o máximo de cada profissional com o objetivo de diminuir o sofrimento do paciente.
A importância do psicólogo hospitalar em hospitais deve-se ao seu cabedal teórico e prático específicos para lidar com os conflitos psicológicos vivenciados pelos pacientes e seus familiares naquele momento, podendo ajudá-los através da "psicoterapia hospitalar" (ALAMY, 2003)3 a elaborarem seus conflitos, fantasias e medos diante da doença, do seu tratamento e da hospitalização.

Sua necessidade é reconhecida quando os fatores físicos não justificam a patologia e as doenças psicossomáticas são levadas em consideração. A diminuição da ansiedade nos quadros pré-cirúrgicos também é observada com a intervenção do psicólogo e ainda há o reconhecimento de que o sujeito doente sofre desequilíbrio bio-psico-social e que é possível restabelecer seu equilíbrio com a ajuda do psicólogo.

O papel do psicólogo ainda é confundido com do Assistente Social e do Terapeuta Ocupacional, ainda fruto de uma atuação nova, sendo necessário que o profissional esclareça as concepções errôneas sobre suas atividades, conquistando seu espaço e mostrando pra que veio, pois na maioria dos hospitais há resistência quanto a atuação do psicólogo, tanto por parte dos médico quanto por outros profissionais.
Essa resistência deve-se a dois grandes fatores, dentre outros: a onipotência do médico e a incompetência do psicólogo, que aliadas tornam o trabalho conjunto inviável, onde o paciente é quem mais perde.

O médico que se julga capaz de dar conta de todo o processo de adoecimento, desconsiderando a subjetividade do seu paciente, está demonstrando onipotência, e o psicólogo que se propõe a fazer clínica em hospital, bem como atendimentos sem fundamentação teórica, não alcançará resultados plausíveis no seu trabalho.






REFERÊNCIAS


ALAMY, Susana. Ensaios de Psicologia Hospitalar: a ausculta da alma. Belo Horizonte: [s.n.], 2003. p.127-129)

BORNHOLDT, E.; CASTRO, E.K. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional. Psicologia Ciência e Profissão[on line], set .2004, vol. 24, no 3, p.48-57. ISSN 1414-9893 Disponibilidade e acesso: citado em 25 de maio de 2007.

RODRÍGUEZ-MARÍN, J. En Busca de un Modelo de Integración del Psicólogo en el Hospital: Pasado, Presente y Futuro del Psicólogo Hospitalario. In Remor, E.; Arranz, P. & Ulla, S. (org.). El Psicólogo en el Ámbito Hospitalario. Bilbao: Desclée de Brouwer Biblioteca de Psicologia, 2003, pp. 831-863.

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